Manto e Adaga: falha grave no Android

Falha grave no Android permite que apps sequestrem a tela do usuário e gravem tudo o que ele digita no aparelho; veja como se proteger

Pessoal, isso não é um treinamento. Diz respeito a todas as versões do Android, e até o momento, o Google não corrigiu a vulnerabilidade. Por meio dela, cibercriminosos podem roubar dados incluindo senhas, instalar aplicativos com diversas permissões, além de monitorar o que um usuário digita em um tablet ou smartphone. Repetimos: não é uma simulação.
O ataque, conhecido como Manto e Adaga, foi demonstrado por colaboradores do Instituto de Tecnolgia da Georgia e da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara. Os pesquisadores tentaram alertar o Google três vezes, mas a empresa disse que tudo estava bem. A única opção restante para os envolvidos na pesquisa foi publicar suas descobertas criando um site: cloak-and-dagger.org.

A essência do ataque Manto e Adaga

Em suma, o ataque utiliza um aplicativo de Google Play. Embora o aplicativo não demande permissões específicas do usuário, criminosos obtém direitos que os permitem sobrepor a interface de outros aplicativos, bloqueando-os visualmente e acionando botões no lugar do usuário de modo que o dono do aparelho não note nada de errado.

O ataque é possível porque as pessoas não precisam permitir que aplicativos acessem funções do SYSTEM_ALERT_WINDOW ao instalá-los da Google Play, e a ACCESSIBILITY_SERVICE (A11Y) é fácil de obter.

Mas que permissões são essas? A primeira permite a um aplicativo sobrepor a interface de outros, uma espécie de tela falsa. Já a segunda dá acesso a diversas funções – Serviços de acessibilidade – para pessoas com deficiência visual ou auditiva. A última consegue fazer bastante coisa, até mesmo ações perigosas, ao permitir que a aplicação monitore o que está ocorrendo em outros aplicativos e interaja em nome do usuário.

Mas o que pode dar errado?

Uma camada invisível

Essencialmente, o ataque que usa a primeira permissão, SYSTEM_ALERT_WINDOW, exibe sua interface no lugar da do aplicativo sem que o usuário perceba. Além disso, as janelas que exibe podem ter quaisquer formas – incluindo buracos. Também podem registrar os toques ou deixá-los passar para o aplicativo embaixo.

Por exemplo, desenvolvedores maliciosos podem criar camadas transparentes sobre o teclado virtual de um dispositivo Android, e capturar todos os toques na tela, o que permite a um hacker roubar informações sensíveis. Programas maliciosos desse tipo são normalmente chamados de Keylogger. Esse é um dos exemplos usados pelos pesquisadores para exemplificar o ataque.

Em linhas gerais, SYSTEM_ALERT_WINDOW é uma permissão perigosa; e o Google assume que a possibilidade desse tipo de ataque é pequena. Contudo, com aplicativos populares, como o Facebook Messenger (com aqueles balões que sobrepõem tudo), Skype e Twitter requerem essa permissão, o Google achou mais fácil concedê-la sem avisar o usuário. Infelizmente, simplicidade e segurança nem sempre andam de mãos dadas.

Os perigos das funções de acessibilidade

A segunda vulnerabilidade, Acessibilidade, foi desenvolvida com boas intenções: facilitar o uso dos dispositivos para pessoas com deficiência visuais ou auditivas. Contudo, ela fornece um número gigantesco de permissões no Android.

Por exemplo, para ler em voz alta o que está escrito em uma tela para pessoas com deficiência visual, uma aplicação pode obter informações como: qual aplicativo foi aberto, quais teclas o usuário pressiona, e quando as notificações aparecem. Isso significa que o app sabe o contexto completo do que está acontecendo. E não para por aí. Além de monitorar as atividades supracitadas, ele também pode executar diversas ações em nome do usuário.

No fim, o Google está ciente das permissões de acessibilidade dadas a esses programas, da habilidade de fazer praticamente qualquer coisa. Portanto, requer que essa utilidade seja ativada individualmente em um menu especial nas configurações do smartphone.

O problema é que com a primeira permissão, SYSTEM_ALERT_WINDOW, que exibe cuidadosamente janelas que sobrepõem a maioria da tela (só não o botão de”ok”), dessa forma, hackers podem enganar alguém a habilitar opções de acessibilidade pensando concordar em algo completamente inocente.

Por conta da autonomia das funções de acessibilidade capazes de realizar compras na Google Play Store, torna-se brincadeira de criança baixar aplicativos espiões que concedem ainda mais permissões. Além disso, isso pode ser feito mesmo com a tela desligada, enquanto um vídeo é reproduzido, bloqueando tudo que ocorre abaixo dele!

Phishing perfeito

Os acessos a essas duas permissões também permitem que o cibercriminosos executem ataques ser phishing sem levantar suspeitas.

Por exemplo, quando um usuário abre o Facebook e tenta inserir dados de login, um aplicativo com acessibilidade pode entender o que está ocorrendo e interferir. A partir daí, utilizando a SYSTEM_ALERT_WINDOW e a possibilidade de sobrepor aplicativos, o hacker pode exibir uma janela de phishing idêntica ao Facebook, na qual o usuário entrará com seu login e senha.

Nesse caso, o entendimento do contexto permite ao desenvolvedor exibir a janela de sobreposição apenas no ponto em que o usuário entrará com a senha. Do ponto de vista do dono do dispositivo, o Facebook funciona como esperado, por isso, não haveria qualquer razão para suspeitar de algo.

Ataques como o descrito não são novidade para pesquisadores de segurança. São inclusive conhecidos como tapjacking. Google deu aos desenvolvedores uma forma de contra-atacar: uma opção que permite verificar se o aplicativo foi sobreposto. Nesse caso, o usuário não conseguirá realizar qualquer ação. Por isso que grande parte dos aplicativos bancários são protegidos contra esse tipo de ataque. No entanto, a única maneira de ter certeza de que um aplicativo não é vulnerável a tais ataques é entrar em contato com o desenvolvedor.

Como se proteger da Manto e Adaga

Os autores da pesquisa testaram o ataque em três das principais versões do sistema operacional do Google: Android. 5, 6 e 7, os quais juntos representam 70% de todos os dispositivos da empresa. Aparentemente, todas as versões são sensíveis ao ataque. Sem falar nas anteriores. O que coloca você, se for usuário do SO, como suscetível a esse tipo de ameaça.

Então, vamos ao que você pode fazer para se proteger:

  1. Tente não instalar aplicativos desconhecidos da Google Play e outras lojas, especialmente aplicativos gratuitos. Apps legítimos não atacarão você com o Manto e Adaga. Todavia, a questão de como diferenciar um aplicativo legítimo de um profissional permanece em aberto.
  2. Verifique regularmente quais permissões os aplicativos possuem no seu dispositivo e revogue as não necessárias. Você pode ler este artigo e aprender mais sobre como fazer isso.

Por último, mas não menos importante, não esqueça de instalar soluções de segurança em seus dispositivos Android. Tente a versão de teste do  Kaspersky Internet Security para Android E se você não possui antivírus no seu tablet e smartphone, instalar uma é um bom começo.

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