Você recebe uma notificação de entrega ou simplesmente encontra um pacote na porta de casa. Mas você não pediu nada! Claro, todo mundo adora um presente gratuito, mas, neste caso, é preciso manter a cautela. Existem vários golpes que começam com a entrega de um pacote em sua casa.
Antes de mais nada, é importante verificar com amigos e familiares, pois alguém pode ter enviado alguma coisa sem aviso prévio. Mas, se ninguém se prontificar, há uma boa chance de que um dos esquemas descritos abaixo pode estar acontecendo.
Alerta de spoiler: sob nenhuma circunstância leia códigos QR com o celular ou ligue para os números de telefone impressos na embalagem.
Inflar a reputação do vendedor
O termo golpe de brushing vem da gíria de comércio eletrônico na China. A expressão 刷单 significa literalmente “polir pedidos” e faz referência direta a um esquema para inflar a reputação do vendedor. Originalmente, o brushing era algo relativamente inofensivo: a pessoa recebia um produto que não havia solicitado, e o vendedor publicava no nome dela uma avaliação positiva para inflar sua própria reputação. Para fazer isso, vendedores inescrupulosos adquirem bancos de dados vazados com informações pessoais e criam novas contas em marketplaces usando os nomes e endereços das vítimas, mas cadastrando seus próprios e-mails e métodos de pagamento. Assim, as vítimas não sofrem perdas financeiras diretas.
Sorte sua, mas, primeiramente, precisamos de sua avaliação
Com o tempo, esse “brushing” relativamente inofensivo evoluiu para formas muito mais agressivas. Atualmente, os golpistas tentam enganar os destinatários do pacote ao atraí-los para um site malicioso. Para fazer isso, eles incluem um cartão ou adesivo com um código QR juntamente com a entrega. A história que acompanha o código varia, com exemplos comuns, inclusive os seguintes:
- “Você recebeu um presente! Leia o código para verificar quem o enviou”
- “Deixe um comentário sobre nosso produto e ganhe um vale-presente de R$ 100!”
- “Confirme o recebimento do item entregue gratuitamente!”
Se a vítima verificar o código QR para descobrir quem é o remetente ou solicitar outro presente, o restante segue o padrão clássico de quishing (QR phishing): levando a vítima a inserir os dados de pagamento (por exemplo, para “ativar” o cartão-presente) ou códigos de aplicativos bancários/governamentais, ou ainda, solicitar a instalação de um aplicativo para “confirmar” ou “ativar”, o que, obviamente, é um malware.
E se não houver nenhum produto?
Os esquemas acima só funcionam quando uma loja on-line pode se dar ao luxo de “doar” produtos como uma tática promocional. Mas os golpistas ainda podem obter os dados sem enviar nenhuma mercadoria? Sim, eles podem, e de fato, é o que fazem.
Em vez de um pacote, a vítima encontra um cartão postal impresso profissionalmente na porta de casa: “Infelizmente, nosso serviço não pôde entregar seu pacote porque você estava ausente. Um presente no valor de R$ 200 só poderá ser entregue pessoalmente, entre em contato conosco para combinar uma nova entrega”. O cartão postal inclui um código QR, um endereço de site e, às vezes, até um número de telefone para “reagendar” a entrega.

Um cartão postal de phishing supostamente do Royal Mail, completo com um endereço de site e código QR, parece altamente convincente, ou seja, os golpistas prestaram muita atenção aos detalhes. Fonte
Se alguém ligar para o número ou visitar o site malicioso vinculado ao código QR, a vítima terá os detalhes de pagamento, senhas ou códigos únicos violados por meio de um dos cenários comuns de fraude de “entrega”:
- “Escolha um horário de entrega imediatamente para que o item não seja devolvido ao remetente”
- “Pague uma taxa de R$ 2 para nova entrega”. O objetivo aqui é obter os dados de pagamento e, em seguida, cobrar valores muito maiores.
- “Pague pelo direito aduaneiro”. Você recebe a informação de que um pacote valioso foi enviado, mas é necessário pagar a taxa. E esses valores podem ser bastante significativos (dependendo do valor do suposto item). Em alguns países, um “entregador” pode até vir pessoalmente para cobrar a taxa em dinheiro.
Todos esses esquemas podem levar à perda de informações pessoais e financeiras, mas às vezes eles se transformam em fraudes telefônicas com perdas muito maiores. Por exemplo, após o pagamento de uma taxa de entrega falsa, os golpistas podem ligar afirmando que o pacote não pôde ser entregue porque conteria drogas. Isso vem na sequência da pressão psicológica feita por meio de ligações de um “policial” e tentativas de extorquir uma grande soma de dinheiro para “proteger” a vítima de acusações criminais.
Dinheiro na entrega
Outro golpe popular envolve produtos com pagamento na entrega. Às vezes, os golpistas anunciam um produto com antecedência e o enviam à vítima com seu consentimento, mas também há uma versão em que um pacote chega do nada. Um dia, um entregador aparece na porta de casa com um pacote em seu nome. Normalmente, um nome de produto atraente é exibido com destaque na caixa, por exemplo, um smartphone de última geração. Mas… a vítima tem que pagar pelo produto. O preço é 2 a 3 vezes menor do que o valor de mercado. Os golpistas contam com a ganância e a urgência (“o entregador está com pressa, vamos fazer isso rapidamente!”) para fazer a vítima pagar sem verificar o item corretamente. O entregador sai correndo, e a vítima abre a caixa para encontrar uma imitação barata do produto solicitado, ou, simplesmente, lixo.
Se a vítima se recusar a pagar pelo item misterioso, os golpistas podem ter um “plano b” pronto, ou seja, eles poderão enganá-la para que forneça um código de verificação único para um marketplace ou banco, com o pretexto de “confirmar o cancelamento do pedido”.
Ataques direcionados
Às vezes, os golpes de entrega física têm como alvo vítimas específicas. Por exemplo, os criminosos tentaram roubar criptomoedas por meio do envio de pacotes aos proprietários da carteira de hardware Ledger que alegam ser uma substituição de garantia gratuita para dispositivos defeituosos. Dentro do pacote havia uma “nova” carteira criptográfica, na verdade, um pendrive carregado com malware projetado para roubar a frase-semente da carteira. O envio de pendrives USB também foi usado pela gangue de ransomware FIN7 como parte de ataques direcionados a organizações.
A ameaça oculta
Golpes de brushing e quishing têm uma causa raiz desagradável. Se alguém estiver recebendo esses pacotes, isso significa que o endereço e outras informações de contato da vítima vazaram nos bancos de dados e estão circulando em fóruns clandestinos. Esses conjuntos de dados são vendidos repetidamente, portanto, as vítimas também podem ser alvo de outros tipos de fraude. Esteja preparado: ative a autenticação de dois fatores em todos os lugares, fique atento com chamadas fraudulentas, instale o Kaspersky Who Calls para se proteger dessas chamadas de spam, verifique seus extratos bancários com frequência e não se esqueça de instalar proteção confiável em todos os dispositivos.
O que fazer se você receber um pacote inesperado?
- Examine cuidadosamente a embalagem, os rótulos e todos os documentos que o acompanham.
- Tire uma foto do pacote por precaução, mas nunca leia nenhum link de códigos QR, nem de texto impresso. Guarde a embalagem para o caso de haver uma investigação posterior.
- Nunca ligue para os números de telefone ou, mais uma vez, visite os links impressos no pacote.
- Nunca pague “taxas de entrega” ou “taxas alfandegárias” e nunca forneça os detalhes de pagamento.
- Nunca conecte dispositivos de armazenamento digital recebidos inesperadamente ao computador ou smartphone.
- Se o pacote foi entregue por um serviço de entregas importante e conhecido (Amazon, eBay, DHL Express, UPS, FedEx, AliExpress, serviços postais nacionais, etc.), acesse o site oficial da empresa, encontre os números de contato, rastreamento on-line do serviço ou bate-papo ao vivo e verifique o status da remessa e as informações do remetente. Se o pacote tiver um número de rastreamento, basta inserir manualmente, e, de novo, não leia nenhum código QR na etiqueta.
- Denuncie o pacote suspeito ao serviço de entregas e à polícia, mesmo que nenhum dinheiro tenha sido roubado.
Leia mais detalhes sobre golpes envolvendo códigos QR, marketplaces e serviços de entrega:
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