Tecnologia

O Coronavírus e a cibersegurança: como os governos devem reagir

O Coronavírus deixou as pessoas muito mais vulneráveis, inclusive para ameaças digitais. Criminosos digitais afiaram suas habilidades durante a quarentena. Mas o que os governos devem fazer para se proteger disso? Apresentamos as três prioridades mais urgentes.

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Simeon Elson

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O fato de grande parte da população mundial ter ficado em quarentena durante a pandemia do Covid-19 trouxe muitos benefícios para o mundo. Parece até estranho falar isso, mas além de minimizar a propagação do vírus, a quarentena também afetou outros processos: nos deu a chance de ver nossas cidades com menos poluição e fez com que as empresas percebessem que o trabalho remoto é uma alternativa viável.

Mas enquanto muitas pessoas se preocupavam em aperfeiçoar suas habilidades na cozinha, discutir fake news com seus parentes ou manter seus filhos ocupados enquanto trabalhavam, infelizmente os criminosos digitais também tinham tempo livre suficiente para “aprofundar os estudos”.  

Tive a oportunidade de discursar sobre o atual crescimento das ameaças digitais e o quê podemos fazer para lidar com elas, em um encontro recentes de líderes mundiais sobre cibersegurança do Fórum de Governança Digital das Nações Unidas, conhecido como IGF. 

Durante a pandemia, os criminosos digitais tiveram tempo o bastante para melhorar suas habilidades e testar novos métodos. Com isso, vimos uma forte alta no número de ameaças digitais de todos os tipos, desde malwares até ameaças avançadas persistentes (APTs). Novos grupos de hackers também entraram em cena, e com eles, novos tipos de ataques apareceram.

Tirando a máscara dos criminosos

Aqui está um exemplo da expansão que os ciberataques tiveram desde o início da pandemia.

Somente em 2020, vimos um aumento de até 25% em novos ataques. A maioria dessas ameaças são fáceis de lidar, como os malwares. Mas também estamos vendo um aumento no número de gangues de cibercriminosos. Pesquisadores da Kaspersky estão monitorando atualmente mais de 200 gangues que têm lançado ataques minuciosamente planejados contra alvos importantes, como bancos e instituições governamentais. Também temos visto mais “iniciantes” entrando no mundo dos crimes digitais. Mas mesmo que seja facilmente barrada, a onda de juvenis dos crimes digitais promete ser uma classe altamente perigosa no futuro.

Um dos maiores medos é justamente o potencial que essa nova escala de crimes digitais tem para danificar as infraestruturas de diversos países num futuro próximo.

Com o crescimento da famosa Internet das Coisas, o número de pontos disponíveis para ataques digitais deve crescer exponencialmente, e sabemos que os criminosos digitais têm a capacidade e a vontade de atacar esses aparelhos. Um dos primeiros exemplos disso foi um dos maiores ataques globais já realizados, o ataque malware da Mirai, de 2016, que afetou a empresa provedora de domínios de internet Dyn, um ataque que derrubou centenas de sites de veículos de mídia ao redor do mundo.

Como os governos devem responder ao novo cenário de ameaças digitais

A pandemia teve dois impactos diferentes sobre a cibersegurança mundial. Primeiro, as pessoas se tornaram alvos mais fáceis para as ameaças digitais por estarem trabalhando de casa, com menos ferramentas de segurança, e passando cada vez mais tempo conectadas. Segundo, porque o número de criminosos digitais também aumentou e eles ainda tiveram a chance de melhorar suas habilidades durante a quarentena.

Enquanto isso, o investimento na economia digital só aumenta. Muitos negócios decidiram usar a pausa nos mercados e os cortes da pandemia para digitalizar uma parte maior do seu funcionamento. Então estamos vivendo um momento no qual as organizações e seus consumidores ainda precisam se sentir confiantes sobre essas novas maneiras de comprar, vender e entregar produtos e serviços. É construindo essa confiança que as economias se fortalecem. Mas como chegar a esse ponto? Podemos listar três prioridades:

Líderes mundiais discutem sobre cibersegurança internacional na edição 2020 do Fórum de Governança Digital das Nações Unidas.  

1. Criar tecnologias mais seguras desde a origem  

Podemos criar tecnologias muito mais difíceis e caras de invadir e penetrar, mas isso tem que ser feito desde o início, a partir da fabricação. Temos sistemas operando em dispositivos que já estão disponíveis no mercado e que são tão seguros que fomos obrigados a criar um novo termo para falar dessa categoria: “ciberimunidade“. O termo se refere aos sistemas onde os ladrões têm que gastar mais para ter um ataque de sucesso do que o valor que provavelmente arrecadariam com o golpe. Ou seja, não vale a pena. Podemos usar esses sistemas para tornar algumas infraestruturas cruciais muito mais seguras e o momento para dar início a esse movimento é agora.  

2. Aplicar leis de cibersegurança em escala internacional

A cooperação internacional é crucial para caçar e prender criminosos digitais, mas parece que os países não estão indo rumo à cooperação e sim se distanciando cada vez mais. Precisamos de um espaço dentro da cibersegurança onde as nações possam cooperar de maneira segura, sem que questões políticas e geopolíticas entrem no caminho.  

3. Uma cooperação de alto nível exige um entendimento de alto nível

Para poder cooperar precisamos superar nossas diferenças, mas também precisamos de gente que entende de cibersegurança. É a vez dos “ciberdiplomatas” aparecerem: gente capacitada e atualizada sobre o movimentado cenário das ameaças digitais que assuma uma posição de liderança.

A boa notícia para quem imagina um grupo de pessoas numa sala vendo uma apresentação entediante de Power Point é que a capacitação em cibersegurança se mantém a par dos avanços e inovações da ciência do aprendizado. Hoje existe gente aprendendo, por exemplo, por meio de simulações imersivas e gamificadas, como a Kaspersky Interactive Protection Simulation (KIPS), que tem se mostrado popular e eficiente.

Enquanto o mundo se recupera do choque e dos impactos da pandemia do Coronavírus, temos que entender que muita coisa mudou, inclusive entre as ameaças digitais. Precisamos dar início a uma nova era de cooperação internacional para poder caçar os criminosos digitais. E precisamos que esses novos “ciberdiplomatas”, aqueles que desenvolvem e aplicam políticas nacionais e internacionais de cibersegurança, entendam o cenário por completo e saibam o que estão fazendo.

As gangues profissionais de criminosos digitais estão afiando suas habilidades. E por isso acredito que veremos os cibertaques crescendo no mundo todo e em todos os níveis, causando mais danos para os negócios e para as instituições. Felizmente, a tecnologia evolui para todos e nós também ganhamos novas ferramentas. E adotar sistemas ciberimunes pode ser o primeiro passo para que nações inteiras mantenham luz, água e internet funcionando durante os períodos de crise que vêm por aí.

KASPERSKY APT INTELLIGENCE REPORTING

Insights novos e exclusivos sobre as maiores campanhas de espionagem cibernética ao redor do mundo.

Sobre os autores

Eugene Kaspersky is Kaspersky's co-founder and CEO. He has an Honorary Doctorate of Science from UK’s Plymouth University and regularly speaks on cybersecurity at universities, conferences and events. He also enjoys photography and expeditions into the wild.